IVONE MARTINS DE MORAES
( Rio Grande do Sul
– Brasil )
Nasceu em Bagé, Rio Grande do Sul, onde viver até os vinte e dois anos. Estudou no Colégio Espírito Santo, onde concluiu o Curso Normal.
Graduou-se em Pedagogia na primeira turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Bagé. Especializou-se em Administração Escolar pela Universidade Católica de Brasília.
Dedicou-se às grandes paixões: o magistério e as artes, tendo participado de diversas exposições de pintura a óleo sobre tela e porcelana.
Quanto à sua trajetória literária, ingressou na Academia Leonística Mineira e Brasiliense de Letras (ABLML), onde assumiu a cadeira de número XXVI.
Publicou seu primeiro livro de poesias: “Vida Versus Versos” em 2007.
Participou do Concurso de Poesias do CTG Estância Gaúcha do Planalto – 2006, tendo um poema seu publicado: https://www.estanciagaucha.com.br/
MORAES, Ivone Martins de. Sentença das Horas. Capa: Nonato. Prefácio: Carmo de Leão Lima. Brasília, DF: Verano Editor, 2012. 130 p. 15 x 21 cm.
Ex. bibl. Antonio Miranda, doação do livreiro José Jorge Leite de Brito.
CORETO
Na minha cidadezinha
havia um coreto
entre as árvores floridas
da praça principal.
Ali, os músicos de outrora,
durante os festivais,
alegravam nossas vidas
soltando notas sonoras
em rimas musicais,
que ecoavam pelos ares,
nas mornas tardes outonais.
TUDO ACONTECE
Um dia, fui embora...
Aquele som bucólico
das canções antigas,
timbre melancólico,
ressonância única,
eu deixei ali...
O som mais bonito
que nunca mais ouvi...
O NOSSO ACERVO
Guardamos coisas sem valor,
mal resolvidas,
seja lá como for,
esperanças perdidas,
sonhos entre teias,
ensaios de amores,
erros e suas dores,
anseios,
ilusões a mancheias.
Estranho museu de velharias,
esta nossa vida!
Urge que se faça
uma faxina bem feita,
do tipo – mudo,
jogo fora tudo
Um balanço geral,
quase um vendaval.
Bem provável,
mas sem garanti,
o nosso acervo é
permanentemente renovável.
TEMPO
O senhor do tempo,
sentado no limiar das horas,
fia com seu fuso mil novelos,
enredos,
que escorrem por seus dedos.
Enleios,
coisas incompreendidas,
que enlaçam e embaraçam
nossas vidas.
TUDO ACONTECE
Como saber, se é agora
a hora certa para deixar aberta
a guarda ao que se oferece?
O que não se espera,
fora dos planos,
o que não anda nos trilhos
perde o brilho
se vier no pacote.
É de improviso
que encontramos
o esperado,
no inesperado das horas
dão-se as melhoras.
E por excelência
se estivermos em alerta,
veremos na grande feira
que a existência
o que existe em oferta.
MORAES, Ivone Martins de. VIDA VERSUS VERSOS. Ilustração da capa: José Luiz M. Pereira. Prefácio: Victor Tamuri. Brasília: Editora Ser, 2007. 114 p. ISBN 978-85-8662-66-9 No. 10 029
“Escrever é um ato solitário, no entanto, o conteúdos do que se escreve, quando se revela ao leitor, o transforma em um ato solidiário.” Ivone Martins de Moraes.
Minha vida em cordel
Minha vida daria um romance
com enredos e tramas sutis.
Ai de mim que passei por tais lances
nem um pouco felizes ou pueris.
A primeira infância é um grito
que até hoje no peito se cala.
O meu pai no seu sono infinito
sobre a mesa comprida da sala.
Minha mãe lutou insistente,
enfrentando os moinhos de vento
para criar uma filha inocente
e lhes dar o abrigo e o sustento.
Mãe de oito meninas pequenas
dependentes da força dos braços,
que outros dotes a santa não tinha
e os meios de vida eram escassos.
Logo, logo, a guerreira tombou.
Sucumbia, vencida na luta,
emanando clara luz, viajou
já liberta da dura labuta.
Mas na terra existiu uma fada,
cujas asas me deram abrigo,
ao seu lado cresci, fui amada
e, até hoje, o seu nome bendigo.
Minha infância correu como o vento,
tive amor, instrução e carinho,
sem qualquer maior dor ou tormento,
com meu anjo mostrando o caminho.
Fui em busca de minha ventura
atraída com o brilho da luz,
sem saber que essa luz era pura
atração perigosas da cruz.
Não é coisa tão simples a vida,
se era, eu quis complicar,
fui em busca da luz, iludida
com promessas de amor singular.
Não lamento ter feito o caminho,
pois meus filhos são o galardão,
lindos frutos de muito carinho
que empreguei ao cumprir a missão.
Pra exercer salutar profissão,
dediquei-me com afinco a ensinar,
professora fui por vocação
fui feliz ao instruir e educar.
Bem mais tarde segui nova estrada
que no outono da vida encontrei,
no meu peito a chama ainda arde
e essa garra foi tudo o que herdei.
Acredito que do mal que se teme
não se foge nem se desvia,
uma força maior vai ao leme
guiando-nos a ter valentia.
Uma grande lição aprendia:
Há momentos em que a fuga é inútil,
é dançar conforme a melodia,
não chorar se o motivo era fútil.
O essencial nesta vida, acredito,
é a esperança, o sonho a visão
em um futuro risonho e infinito
que há de vir pelo sim pelo não.
Uma verdade quero proclamar,
tenhamos dos dons consciência,
nossas bênçãos devemos contar,
muitas graças têm falsa aparência.
Hoje em dia até considero
estar cumprindo a contento a missão,
ainda luto, participo e espero,
sem pecar por fuga ou omissão.
Se é nas artes que encontro acalanto,’
é a arte que vida bendiz,
cada um procura o encanto
onde o se próprio ser é feliz
Navegando em águas bem mansas,
no meu barco suave deslizo,
sem apego a velhas lembranças,
pois a terra já é paraíso.
A viagem
A vida é um potro sem freios,
galopando em campo aberto,
ninguém domina essa louca.
Seu ritmo é incerto,
o roteiro é um mistério
e o destino,
que nos dera conhecer.
Como estamos montados,
vamos presos aos caprichos,
dessa viajante insana,
que nos leva na garupa
nessa viagem insólita.
Vamos todos reféns,
querendo saber ao certo
a hora do desembarque,
se está longe
ou se está perto.
Quando a viagem acabar,
teremos conhecimento,
enfim,
do real sentido
desse peregrinar?
Na média
Não desças os degraus do sonho,
não subas ao nível do impossível,
mantém os pés firmes
no provável,
inventaria os teus bens
e alcançarás o equilíbrio
entre o que queres e o que tens.
*
Página ampliada em outubro de 2024.
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Página publicada em fevereiro de 2022
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